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Índia |
Faz anos sinto necessidade de parar. Parar para pensar, ou melhor, repensar, a vida, a rotina e os próximos passos. Coisa que uma pessoa que mora em São Paulo e trabalha não consegue fazer. Férias, fins de semana, feriados não são suficientes para abrir espaço mental para essas reflexões. E assim a gente vai indo, empurrando as questões para frente, sendo levado pela correnteza, sem poder escolher o próprio destino.
Mesmo assim sempre tentei me agarrar as margens, segurei um galho aqui e ali, gerei alguns conflitos em ambientes de trabalho, mas sobrevivi, como pessoa e profissional.
Agora surgiu um tronco no meio da correnteza, uma brecha na vida, que eu resolvi agarrar. Estou deixando uma atividade, que não mais me supre como profissional, minha filha está indo morar fora, meu marido é uma pessoa que entende as necessidades de um indivíduo e minha mãe ainda está forte para poder ficar um pouco sozinha.
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Munique, pelo menos aqui eles surfam... |
Preciso aproveitar esse lapso no tempo, preciso parar e andar, parar para pensar e andar para buscar. Milhões de questionamentos e dúvidas começam a surgir, até aquela: “porque inventar moda, porque não deixar tudo com está?” Essa é a clássica, gerada pelo medo, medo do desconhecido. Nessas horas parece que tudo era tão bom, todas as insatisfações somem da mente.
Eu sempre amei viajar, fazer esporte e estar perto da natureza. Nem sempre percebi que a relação com outros era importante, principalmente em SP, onde a gente está sempre irritada com tudo e com os outros. Mas nas viagens percebo como me faz bem quando chego mais perto de outros seres humanos.
Porque estou falando sobre isso? Porque nessa parada resolvi viajar para lugares que não consigo ir, em um mês de férias, fazer coisas sempre pensei em fazer, mas me pareciam tão distantes, como ficar em um monastério ou fazer trabalho voluntário.
E aí me questionam, e eu me questiono por quê? O que me move a viajar?
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Moscou - Praça Vermelha |
Pedi ajuda ao meu primo
Daniel, companheiro de viagem, de busca e aprendizagem e
colaborador do VAI NA MINHA. Eu sabia que a resposta deveria estar escrita em algum lugar, sabia que não era a única com esta questão, assim como não sou a única viajante, existem milhares de pessoas atravessando o planeta, seguindo antigas trilhas, de carro, a pé, bicicleta, moto. Cada um tem um jeito, mas a inquietação é mesma.
Daniel Separou para mim alguns pensamentos que outros já tiveram e cada um responde uma parte de tantas questões.
Qual "impulso poderoso" nos faz viajar até lugares distantes, com grandes sacrifícios e, às vezes, com grandes riscos? (A Arte Da Peregrinação - PHIL COUSINEAU )
O impulso para viajar é tão antigo quanto as rochas, tão intemporal quanto a aurora e o poente no céu. Para alguns, viaja-se pelo amor à viagem, como Robert Louis Stevenson, que escreveu: "De minha parte, não viajo para ir a algum lugar, mas para ir. Viajo pelo gosto de viajar". A própria palavra viajante contém imagens de uma história de movimento. Henry David Thoreau escreveu: "Um viajante. Gosto desse título. Um viajante deve ser reverenciado como tal. Sua profissão é o melhor símbolo de nossa vida. Vindo de um lugar, indo para outro; é a história de cada um de nós".
Gostei dessa – A nossa própria vida é uma viagem, no sentido que é uma trajetória, nascemos uma pessoa, experimentamos várias coisas e morremos outra completamente diferente.
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Maldivas - relax também faz bem |
Para outros, como a romancista francesa Colette, viagem sugeria possibilidades sensoriais: "Estou indo para um país desconhecido onde não terei passado nem nome, e onde nascerei outra vez com um novo rosto e um coração renovado".
Essa também é ótima, já tinha pensado nisso – Quando viajo sozinha não sou ninguém, não sou engenheira, não sou a mãe de ninguém ou filha de alguém, não sou rica nem pobre, não tenho referencia, sou o que o outro vir naquele momento. Sou eu e posso me reinventar, ser quem eu quiser, posso experimentar.
Para o vagabundo sem destino Mark Twain, longas viagens contêm em si a possibilidade de autodesenvolvimento: "A viagem é fatal para o preconceito, a intolerância e a estreiteza mental".
Adorei! Fatal para o preconceito! E com certeza para a estriteza da mente! A única coisa que sobra com o passar dos anos é a sabedoria. Sinto sede de aprender, tenho noção de minha visão é limitada, quero amplia-la, o máximo que conseguir. Me incomoda sentir que tenho uma parcial da vida, do mundo, das pessoas, do universo.
Na sua notável antologia Maiden Voyages, Mary Morrissey cita a esplêndida descrição que Lawrence Durrell fez de Freya Stark, a exemplo do modo como as mulheres "viajam de maneira diferente pelo mundo": "Uma grande viajante [...] é alguém que se volta para dentro de si mesma. À medida que cobre as distâncias externamente, ela avança sempre em novas interpretações de si mesma, internamente".
Pois é, não é só para mim, está escrito em livro e isso me faz me sentir menos só. Apesar dos muitos anos te terapia sei que o buraco negro ainda é maior. Quero tentar ser o mais justa possível comigo e com meu entorno e não há como se-lo se meu próprio ser me confunde.
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Patagonia - Fitz Roy - Laguna Capri |
Há uma tradição de viagem como uma espécie de universidade perambulante. Em seu livro clássico Abroad, Paul Fussell escreve: "Antes do desenvolvimento do turismo, viajar era concebido como estudar e seus frutos eram considerados o adorno da mente e da formação de julgamento. O viajante era um estudioso do que ia encontrando ... ".
Essa foi ótima! Realmente a questão do desenvolvimento do turismo, confundiu todo mundo e até a mim mesma! O turismo fez viagem parecer só diversão, prazer, curtição, relax, compras... Acho que é preciso distinguir turista de viajante. Para mim viajar é mesmo ir a universidade perambulante! Amei essa! Viajar me deixa até tensa. Será que vai dar tudo certo? O que vou ter que aprender? Como vou me virar? Será que vou conseguir? Até por causa disso criei este blog, para deixar o próximo viajante menos tenso, por ter um pouco mais de noção do que irá encontrar pela frente. Por um momento penso se não estou atrapalhando o aprendizado como uma professora que assopra a resposta para o aluna. Mas acho que não, por mais que se leia, e se estude, NADA será como estar lá, como experimentar, como viver por si. Sem contar o fato que cada um vai sentir e ver de forma diferente.
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kilimanjaro - Tanzânia |
Os viajantes são pessoas em movimento - passando pelo território alheio - buscando alguma coisa que podemos chamar de inteireza ou, talvez, fosse melhor chamar de clareza um destino para o qual somente o espírito pode apontar o caminho.
Essa eu agradeço. Realmente ando atrás da clareza. Espero que o espírito me aponte o caminho. Me lembro um dia no fim de um safári no Serengeti onde eu tinha a certeza do que eu queria ser e fazer da minha vida. A clareza veio naquele instante, mas sumiu com a vida em São Paulo. Eu ainda me lembro o que eu senti e pensei, talvez agora esteja procurando um forma de colocar em prática....
A motivação dos viajantes foi sempre múltipla: prestar homenagem, pagar uma promessa, fazer uma purificação, cumprir uma pena ou rejuvenescer espiritualmente. A jornada começa em estado de desassossego, de profunda perturbação. Alguma coisa vital está faltando à vida: a própria vitalidade pode estar à espreita no caminho ou no coração de um santuário distante.
O que une as diferentes formas de peregrinação é a intensidade da intenção, o desejo da alma de responder ao chamado de retorno ao seu âmago, não importa se isso pressupõe êxtase ou agonia.
Para sermos tocados precisamos, por nossa vez, tocar. Quando a vida perdeu seu sentido, um viajante arrisca tudo para voltar a ter contato com a vida.
Com certeza sempre me sinto mais viva no meio de uma montanha! Algo desperta dentro de mim, uma alegria profunda, uma enorme sensação de gratidão e amor pela vida e pelo universo. A sensação de que tudo é perfeito naquele momento, naquele lugar.
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Machu Picchu com Daniel |
Inseparável da arte de viajar está o anseio de romper com os hábitos tolos da nossa vida comum em casa, e se afastar pelo tempo necessário até ver realmente o mundo ao seu redor. Por isso, “a imaginação é mais importante do que o conhecimento”, no dizer de Albert Einstein e, também por isso, a arte de viajar é a arte de reimaginar como caminhamos, falamos, escutamos, vemos, ouvimos, escrevemos e nos preparamos para a jornada que nossa alma tão profundamente deseja.
Mark Twain também vai nessa linha "A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau."
Acho que essa explica porque um mês é pouco. Imagine quão difícil seria romper com os hábitos de uma vida? E mais precisamos imaginar novos hábitos e estar tão convictos deles que nem toda a correnteza do rio, nem todos os seres ao redor poderão de forçar manter os antigos hábitos, aqueles que não estavam sendo capazes de fazer você se sentir realmente vivo.
No momento em que você decide quebrar as paredes do cativeiro e deixa sua alma livre e ir passear na jornada de novos ambientes, novas pessoas e novas ideias, você está dando ao seu eu interior uma oportunidade de ouro para explorar a parte oculta de si mesmo e desenvolvê-lo no sentido de uma forma positiva. Mudança de local e horário ajuda a relaxar sua mente e dar tempo para si mesmo. E o primeiro passo para o autoconhecimento é de fato a necessidade de dar tempo para si mesmo.
O melhor é a certeza que essa busca se desenvolve sempre no sentido positivo, com benefícios para o viajante, seus amores e o resto da humanidade.
Acho que essa reflexão faz parte do planejamento da viagem, afinal como decidir o que fazer sem saber qual o objetivo? Certamente os questionamentos não terminaram aqui e continuarei na busca. Sua ajuda na discussão será muito bem vinda.
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Dubai - aqui é o centro do mundo |
Abaixo as pessoas que eu amo, viajar com elas é ótimo, crescemos juntos, mas resolvi coloca-las aqui porque é para elas que eu sempre volto.
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Moscou - Mãe e filha, meus amores |
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Maldivas - meu marido, meu amor |
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Uruguay - copa Davis - meus tios, meus amores |
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Ilha de Páscoa - Paula minha amiga - meu amor
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Campos de Jordão - Cássia e Cláudia , minhas amigas, meus amores |
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