Os chineses, quando invadiram o Tibete em 1959, queimaram todos os livros tibetanos e arte que puderam encontrar, em incêndios que duraram meses. Os livros que sobraram, são aqueles que vieram nas costas de fugitivos, através das imensas montanhas nevadas, o que demonstra sua importância. Os livros concorriam com a comida necessária à sobrevivência na caminhada.
Tartang Tulku dedicou a sua vida a preservar estes textos e essa cultura. Eu, a medida que me aprofundo nisso tudo, agradeço sua determinação e a oportunidade de poder colaborar.
Em 1963, ainda na Índia, ele fundou a Dharma Publishing, que produz e distribui livros sagrados tibetanos e arte. Em 1971 a gráfica foi trazida para a Califórnia e está ajudando a reconstruir bibliotecas tibetanas ao redor do mundo.
“The whole point of our work, to preserve the Tibetan culture, is to put the precious teachings of the Dharma in the hands of the monks, nuns, lamas, and Tibetans in Exile. They are the hope for the future.” TarthangTulku
Em 1972 ele fundou o Instituto Nyingma, em Berkeley, que se expandiu para o Brasil, Alemanha e Holanda. Estes institutos oferecem aulas, workshops e retiros.
Com seu entusiasmo e determinação, os projetos do Tibetan Nyingma Meditation Center - TNMC não param de brotar:
- o projeto Yeshe De, com o objetivo de preservar e distribuir textos sagrados tibetanos em língua tibetana;
- a Cerimônia anual mundial pela Paz em Bodh Gaya, na Índia, criada para reunir toda a comunidade budista e distribuir os livros e arte produzidos pelo Yeshe De;
- o Dharma College uma escola dedicada a estudas, desenvolver e transmitir o conhecimento necessário para a compreensão da natureza da mente e de seu potencial transformador.
- a Guna foundation um estúdio de cinema que produz documentários relacionados ao budismo tibetano
Agradeço a Judy Rasmussen, diretora do TAP, a grande oportunidade poder contribuir com este projeto, eu realmente acredito que a preservação e a disseminação desta cultura e seus ensinamentos podem ser a salvação deste planeta.
Para quem quer dedicar seu tempo a boa causa, gosta de viajar e tem pouco dinheiro, o trabalho voluntário é uma boa opção. Nestes quinze dias não gastei nada de comida e hospedagem, para períodos mais prolongados há pequena remuneração. É possível fazer trabalho voluntário em vários projetos, pesquise qual mais tem a ver com seus interesses e habilidades.
Judy e Rosalyn |
Rosalyn com todo seu talento na reprodução de uma thangka - com Tartang Tulku há 30 anos ela é também diretora de arte da Dharma Publishing |
Fiquei hospedada no Instituto Nyingma de Berkeley, onde moram vários outros voluntários de diferentes projetos do TNMC. Conheci muitas pessoas, aprendi muito sobre a organização, sua história, seus objetivos e o melhor, como ajudar. Acho que pude contribuir com o projeto e deverei continuar contribuindo aqui no Brasil.
o instituto Nyingma de Berkeley |
a vista do meu quarto - baia de San Francisco |
a vista do meu quarto - universidade de Berkeley |
Também fiz bastante trabalho não pensante, o que foi ótimo para o meu cansado cérebro.
Fiquei muito tempo cortando bandeiras de frente para uma janela, que dava para os fundos do edifício do correio, o que me possibilitava ouvir a conversa dos empregados! Era engraçado, tinha uma que reclamava da chefa todo dia!!! Ficava fofocando com outra pelo radio, dizendo que ela não ia aturar isso, que a chefa não tinha coração... rsrsrs Por outro lado eles brincavam entre si e eram muito amáveis uns com os outros, além de me divertir aproveitei para treinar o inglês.
eu, minha janela e as bandeiras de orações |
cada bandeira tem uma prece, elas são espalhadas para lançarem as bênçãos sobre todos os seres |
a Joanne minha colega de reciclagem de cordas |
Um dia achei um cartão no escritório que dizia:
" If you see work as a journey toward fulfillment, each challenge transforms who you are. Work becomes more like art: you work for the joy of working." Tartang Tulku
De repente essa frase fez todo sentido para mim, eu estava lá cortando bandeiras e percebi que amo ser engenheira, que inúmeras vezes me senti feliz e orgulhosa do trabalho que havia realizado.
Então, eu, que entrei nesse sabático, entre outras coisas, para repensar a profissão e o que eu quero fazer daqui para frente, estava vendo uma luz no fim do túnel. Descobri que a engenharia não era o problema, a questão é como trabalhar, como lidar com as pressões e relações. Preciso aprender a sentir mais “joy” durante a viagem. Vocês sabem que no vocabulário Tibetano não existe a palavra férias?!?! No mundo ocidental trabalho e alegria parecem que são duas coisas separadas e a alegria só nas férias. Essa foi uma das razões pelas quais achei que tinha que parar para mudar, percebi que não adiantava tirar 15 dias de férias, voltar relax e 15 dias depois estar tudo igual. Percebi que tinha que mudar os outros 335 dias do ano!
Com relação ao budismo, estive em 2 workshops com a Sylvia Gretchen, aluna de Tartang Tulku desde 1969 e atualmente no comando do instituto em Berkeley, que foram ótimos. Para finalizar ela focou na importância na disciplina para manter as práticas. Disse ela: Tenha em mente que nossa missão é iluminar-se para ajudar a livrar todos os seres do sofrimento. Com essa responsabilidade há que se praticar !!!
Do meu lado esquerdo a Joleen mestra do Nyingma da Holanda |
Um dia fui andar no Tilden parque com uma das voluntárias do instituto, ela estava com duvidas em relação a uma situação afetiva. Eu fiquei surpresa ao ver que não sabia o que dizer. Normalmente, eu teria muitas respostas e sugestões para dar, mas todas perderam a validade depois do retiro em Ratna Ling. Depois de um tempo perdida nesse limbo de falta de sabedoria rsrsrs me ocorreu que pensamentos mudam e não são uma base solida e confiável e que qualquer coisa que eu dissesse ou ela pensasse seriam inúteis, não confiáveis e mutáveis. Ela também havia me dito que tinha vindo para Berkeley para ser mais budista. Então eu disse para ela parar de pensar porque não ia adiantar nada e ir meditar e que quando fosse o momento de decidir, que ela tentasse ouvir o coração. Ela já respondeu que se fizesse isso ela já sabia o que ia fazer. Aí eu disse que essa resposta não valia, veio muito rápido, veio da superfície, tem que ir mais fundo!
Fiquei feliz que as coisas que eu ouvi e experimentei me vieram e que as velhas sumiram.
Me diverti vivendo na comunidade, dividi o quarto com a Roxy, já formada ainda está decidindo para onde ir. Nos demos muito bem, tínhamos o mesmo nível de organização, (quase nenhuma!) rsrsrs
Roxy, de manhã, antes de sair para o trabalho |
nosso quarto, minha cama é a da direita |
Adorei deitar na minha cama a noite sendo apenas um ser no mundo, não era mãe, patroa, chefa, subordinada, esposa, filha, nada!!!! Deitava e ninguém ia me pedir nada!
Acordava de manhã, comia meu iogurte com granola,e saía caminhando pelo meio da universidade de Berkeley até o escritório, em 25 minutos de contemplação e relax estava lá. No fim de tarde, a mesma coisa, ao chegar o jantar estava quase pronto.
Acordava de manhã, comia meu iogurte com granola,e saía caminhando pelo meio da universidade de Berkeley até o escritório, em 25 minutos de contemplação e relax estava lá. No fim de tarde, a mesma coisa, ao chegar o jantar estava quase pronto.
O almoço e o jantar são elaborados pelos voluntários da cozinha, o café da manha é cada um por si. A tarde tem chá e bolo ou cookies maravilhosos feito pela Chef Airi Kandel os melhores que já comi na vida! E se a qualquer hora você tiver fome sempre tem os left overs!
Adorei essa coisa de descer na cozinha para comer algo e as vezes encontrar gente ou não encontrar ninguém, entrar muda e sair calada. Da se muito valor ao silencio por lá!
A vida em comunidade tem que ter método para dar certo. Com instruções espalhadas em todos os lugares e coisas, a comunidade parece que é um organismo que se move de acordo com uma força suprema.
Airi preparando mais um almoço vegetariano delicioso |
os cookies inesquecíveis a esquerda |
A vida em comunidade tem que ter método para dar certo. Com instruções espalhadas em todos os lugares e coisas, a comunidade parece que é um organismo que se move de acordo com uma força suprema.
Erik no seu rodízio de cleaning |
Amei o método!
Nestes 15 dias fui várias vezes cuidar das minhas costas, que estavam péssimas depois do retiro.
Descobri um quiroprata maravilhoso, o Laurent do The Joint, que me alinhou umas 4 vezes e percebi que nem sempre entortava igual. E o melhor é que cada sessão era USD 40 e ainda é possível fazer um pacote mensal! Nada de coisa chique e fresca e carerrima como aqui em SP, ele atende em um salão com porta para a rua, com a roupa que a gente está vestindo e em 10 min no máximo a gente sai leve, aliviado e sem falir!
Ele ainda me indicou uma massagista excelente, a Hisako Oba, uma mulherzinha pequenina, muito forte e cuja técnica era fazer fluir. Ela realmente queria me curar, achou 2 pontos de dor que nunca ninguém viu. Eu sabia que eles estavam lá, mas estão lá há tanto tempo que eu achava que não tinham solução. Ela se dedicou a eles com convicção, ficou comigo 2 horas por 2 vezes e não aceitou que eu pagasse, eu vi que ela estava fazendo pelo prazer de fazer bem feito, de querer ajudar.
Antes de ir embora agradeci imensamente e falei para ela o quanto a energia dela era especial e que o trabalho dela era arte. Tive que sair quase correndo, estava prestes a chorar, de gratidão e pelas antigas dores que estavam se indo, as físicas e as mentais.
No meu ultimo dia lá comprei um presente para a massagista, queria muito agradecer a dedicação dela, ela não estava curando só o meu corpo, eram dores de anos de historia, ela estava curando o resultado da minha vida!
Era um domingo, fui ate o consultório dela, pensei e deixar de baixo da porta, não sabia como iria fazer, mas ao chegar lá ela estava na porta, como se estivesse me esperando! Foi incrível a sincronicidade! Entreguei o presente, agradeci muiiiito, disse de novo o quanto o trabalho dela e especial e ela era especial. Adorei poder fazer isso pessoalmente.
No budismo dizem que quando a energia flui a sincronicidade aparece! Eu vivi isso!
Antes de ir embora agradeci imensamente e falei para ela o quanto a energia dela era especial e que o trabalho dela era arte. Tive que sair quase correndo, estava prestes a chorar, de gratidão e pelas antigas dores que estavam se indo, as físicas e as mentais.
No meu ultimo dia lá comprei um presente para a massagista, queria muito agradecer a dedicação dela, ela não estava curando só o meu corpo, eram dores de anos de historia, ela estava curando o resultado da minha vida!
Era um domingo, fui ate o consultório dela, pensei e deixar de baixo da porta, não sabia como iria fazer, mas ao chegar lá ela estava na porta, como se estivesse me esperando! Foi incrível a sincronicidade! Entreguei o presente, agradeci muiiiito, disse de novo o quanto o trabalho dela e especial e ela era especial. Adorei poder fazer isso pessoalmente.
No budismo dizem que quando a energia flui a sincronicidade aparece! Eu vivi isso!
eu e a Hisako, ela me salvou! |
Julho de 2013, foi o mês em que iniciei a cura do corpo e da mente. Foi quando finalmente fiz as pazes com a minha profissão de engenheira.
Julho de 2013, aos 50 anos pude começar de novo, fui ate jovem de novo, fiz coisas que nunca tinha feito, vivi em comunidade, trabalhei como voluntária, fui para um retiro e fiquei 2 meses fora de casa.
Sobre o primeiro mês já contei, mas tem mais, agora vida de turista pela costa oeste dos EUA Yosemite park e Grand Canyon!
Cláudia,
ResponderExcluirEstou adorando de receber suas mensagens. Parabens pela coragem , amiga.
Vá em frente e curta seu período sabático.
Abs,
Renato
Claudia,
ResponderExcluirLevei um susto quando disse que aos 50 (!!!!) começou de novo. Não pelo começar de novo, mas pelos 50. Achei que vc tivesse no máximo dos máximos 40. So, parabéns pela jovialidade, beleza, curas - amei saber que é possível curar dores crônicas decenárias... e, principalmente, pelo renascimento.
Em tempo, o site é ótimo.
bjs,
vanessa
Cláudia
ResponderExcluirLinda estória de coragem!
Bjs
Paula
Boas palavras, Claudia. Q venham mais 335 dias assim pela frente... namaste, retiro inspirador.
ResponderExcluirMae,
ResponderExcluiradorei ler sua estoria!
mas pode esquecer essa de ser um ser só no mundo, vc vai ser minha mami pra sempre.
sua felicidade é a minha felicidade!
te amo.
só de vez em quando.... te amo muito e adoro ser sua mae!
ExcluirCláudia,
ResponderExcluirEstava na internet à procura de um trabalho voluntário, fora do Brasil. Vi sua história e me interessei muito queria mais detalhes.
Olá Virginia, me envie um email claudia@vainaminha.com te passo meu telefone a gente conversa, a história é muito longa.
ExcluirObrigada, Cláudia! Enviei hj.
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