A historia dessa viagem se confunde com a historia da busca pessoal, que pode ter começado com 25 anos de terapia ou, antes ainda, com um mochilão na Europa. Talvez sejam complementares, um olhando para dentro e outro para fora.
As viagens eram minha forma de aprender sobre o mundo, outras culturas e outras formas de viver, destruir preconceitos, trazer abertura.
As viagens perto da natureza me ajudaram a conhecer meus limites físicos e mentais, porque sem a mente o físico desiste logo... aprendi isso na trilha inca e na subida do Kilimanjaro. No topo do Kilimanjaro a 6000m de altitude chorei de emoção por descobrir a força que havia em mim, a persistência. Foi a coisa mais difícil que fiz na vida!
Agora esse sabático, que sem planejamento, se voltou muito ao espírito e ao budismo, gerou mais essa viagem, onde aprendi muito mais sobre meus limites culturais e mentais.
Há muitos anos havia ouvido contar sobre a cerimonia pela paz mundial, criada ha 25 anos atrás, pelo lama Tarthang Tulku, refugiado do Tibete, para preservar a cultura tibetana e os ensinamentos Budistas e revitalizar a cidade de Bodhgaya, onde o Buda se iluminou, entre muitas outras coisas.
The tale of this trip is intertwined with the history of my personal quests, which may have started with my 25 years of therapy or, even before that, when I went backpacking around Europe. Maybe they complement each other, one looking deep inside while the other looks far outside.
My travels were my way of learning about the world, other cultures and other ways of life, to tear down prejudices and open myself.
The trips to wild places helped me to know my physic and mental boundaries, as without mental strength the physical strength soon goes away… I learned all of that in the Incan trail and on my climb of the Kilimanjaro. When I got to the top of the Kilimanjaro, at an altitude of 6,000 meters, I was so moved I cried, because I learned the strength I had inside of me , and the perseverance. It was the hardest thing I did in my life!
Now, during this sabbatical, that without much planning focused itself on the spirit and on Buddhism, a new trip came to be, in which I learned a lot more about my cultural and mental boundaries.
Many years ago I had heard about the World Peace Ceremony, created 25 years ago by the lama Tarthang Tulku, a Tibetan refugee, to preserve the Tibetan culture and the Buddhist teachings, as well as to breathe new life into the town of Bodhgaya, where, among many other things, the Buddha attained Enlightement.
Me descreveram assim:
Em baixo da arvore, onde o Buda se iluminou, a Bodhtree;
Durante 10 dias, monges e leigos cantam mantras pela paz mundial, repetem os ensinamentos do Buda, oferecem flores, frutas e doces, se prostram, meditam e praticam incansavelmente, em busca de uma mente mais clara e livre de obstáculos para o caminho da iluminação.
Milhares de lamparinas são mantidas acesas 24 horas;
Todo dia milhares de vasinhos (balls) são enfeitados com flores e limpos a final do dia, para refazer tudo novamente no dia seguinte.
Described to me thus:
Below the tree, where the Buddha was enlightened, the Bodhtree;
Over 10 days, monks and laypeople chant mantras for world peace, repeating the Buddha's teachings, offer flowers, fruits and sweets, prostrate, meditate and practice tirelessly looking for a clearer mind and free of obstacles to the path of enlightenment .
Thousands of oil lamps are kept lit around the clock;
Every day thousands of small pots (balls) are decorated with flowers and then cleaned by the end of the day, just to be decorated again the next day.
Tons of flowers for decoration. Tons of food to feed monks and beggars. Tons of money to be offered to lamas and monks.
São toneladas de flores para enfeitar. Toneladas de comida para alimentar monges e mendigos. Toneladas de dinheiro para oferecer aos lamas e monges.
Tudo acontece em proporções gigantescas, nada é impossível ou exagerado demais para budistas e indianos, haja visto os palácios.
Uma das praticas para alcançar mais um estagio de limpeza da mente são as prostrações, são necessárias 108000 prostrações, em torno de 2000 a 4000 por dia, uma pratica de purificação que dura em torno de 1 a 2 meses.
Ensaiei a ida umas 4 vezes, afinal, diante desta descrição ate você quer ir! Não?
All of this happens in truly gigantic proportions, there’s no such thing as impossible or too exaggerated for Buddhists or Indians, as anyone who knows their palaces knows.
One of the practices for those who want to reach a state of mental cleansing is prostrating. Ten thousand eight hundred prostrations are required, around 2,000 to 4,000 each day, in a purification practice that lasts from 1 to 2 months.
Going there was in my plans in four different occasions. After all, after a description such as this one, who wouldn’t like to go? Don’t you think?
o desenho laranja e amarelo é feito de flores |
Apesar de ir sem ter a menor ideia do efeito que esta experiência teria em mim eu contava com a possibilidade de que algo muito forte e transformador poderia se suceder.
Fantasiava que seria tocada por algo comovente, que iria despertar algo em mim do tipo virar monja, adquirir uma paz profunda, mudar para a África, sei lá... fantasias....
Mas nada disso aconteceu, bem pelo contrário!
Fui como voluntária do Tibetan Nyingma Meditation Center. Em Bodhgaya encontrei o grupo responsável pela organização da cerimônia e liderado pelo Lama Palzang, duas filhas e a esposa do Lama Tarthang Tulku. Eram 25 pessoas, a maioria vinda da California. Eu não conhecia ninguém. A medida que me familiarizava com cada um, mais gente chegava para eu assimilar. A sorte é que eram todos muito simpáticos e acolhedores.
No primeiro jantar anunciaram as atividades do dia seguinte, que mais ou menos se repetem ao longo dos 10 dias. Todas são voluntárias, mas já que eu estava lá queria fazer tudo, entender, aprender, sentir e experimentar.
Às 6:00 oferenda de frutas e doces no templo, pouca gente foi mais que uma vez, eu fui duas.
Às 07:00 café da manha.
Às 8:00 oferenda de flores e açafrão, que inclui a colocação de pétalas de rosas e gotas de açafrão em todas as tigelas dispostas a cada 20 cm nos 900m do perímetro do Mahabodhi temple, o que deve dar aproximadamente umas 4500.
Even though I had no idea of the effect this experience would have on me, I counted on the possibility that something really strong and life changing could happen.
I’d fantasize that I’d be touched by something extremely moving, that would awaken in me a desire to become a monk, to attain profound peace, to move to Africa, who knows… Those were nothing but fantasies…
No such a thing happened, on the contrary!
I went as a volunteer of the Tibetan Nyingma Meditation Center. I met the group responsible for organizing the ceremony in Bodhgaya, led by Lama Palzang, and Lama Tarthang Tulku’s two daughters and wife. There were 25 people, most of them from California. I didn’t know anyone. As I became acquainted with each person, more people would arrive for me to know. Fortunately everyone was very nice and welcoming.
During our first dinner they let us know of the activities that would happen the next day, which would be repeated with small variations for the next 10 days. All the activities were optional, but since I was already there I wanted to do it all, understand, learn, feel and experience it all.
At 6 a.m. there were offerings of fruits and sweets at the temple, very few people went to it more than once, I went twice.
At 8 a.m. there were offerings of flowers and saffron, which included placing rose petals and saffron drops in each of the bowls placed around the 900 meters of the perimeter of the Mahabodhi Temple, each 20 cm apart from each other, probably 4,500 bowls in all.
Nessa fui todos os dias, ofereci para o Buda, o Dharma e a Sangha, para todas as pessoas que me vieram a mente e todos os seres do planeta.
Às 9:00 a pratica da mandala, para limpeza das obstruções do caminho da iluminação. Fui todos os dias.
I went to this activity every day, and made offerings to the Buddha, to the Dharma and to Sangha, for all the people that came to my mind and for all the beings in the planet.
At 9 a.m. the mandala practice happened, to clean away any obstructions in our path to Enlightement. I went to it every day.
Lama Palzang conduzindo a pratica da Mandala |
Às 10:30 distribuição de comida para os mendigos. Fui todos os dias, era a parte que eu mais gostava. O contato com as pessoas, mesmo sem falar a língua, a brincadeira com as crianças, sempre alegres e brincalhonas, qualquer coisa era diversão para elas, até correr atrás do caminhão que espalhava inseticida no final de tarde!
At 10:30 a.m. food was distributed to the beggars. I went to it every day, it was the activity I liked the most. I liked the contact with other people, even if I didn’t speak their language, I liked playing with the kids, always so happy and playful, anything was a source of enjoyment for them, even running behind the truck that sprayed insecticide by the end of the day!
nada incomum uma vaca no meio de tudo |
Era preciso manter a ordem, se a gente bobeava as crianças entravam 10 vezes na fila para levar comida embora.
It was necessary to keep everything in order, if we didn’t keep a watchful eye the kids would get in line 10 times and take away all the food.
Os organizadores locais da comida, eficiência |
Mas depois que a tarefa de catar comida acabava elas queriam é brincar, de tirar foto, de roda, de pendurar na gente, qualquer coisa já valia esses sorrisos!!! Eu vi pobreza lá, muita, mas não vi tristeza.
However after the task of getting food was done all the kids wanted to do was to play, have their pictures taken, hang themselves over us, anything was worth those smiles!! I did see a lot of poverty there, a lot indeed, but not much sadness.
A turma Kumar, um dia o Jai Kumar (o segundo da direita) me pediu uma foto, imprimi e levei, virou moda, tive que levar muitas. Me apeguei a ele, era muito delicado e carinhoso, chorei na partida... |
Às 11:30 almoço.
As 13:00 oferenda para os altos lamas e distribuição de dinheiro.
Em seguida distribuição de livros. Ajudei a distribuir o Tanjur, que são os comentários dos ensinamentos budistas, eram 69 caixas com 4 volumes em cada, os monges tiveram que contratar 2 tuctuc cada, para levar toda a coleção. Essa parte era legal também o contato com os monges, a felicidade deles em receber os livros e as rodas de oração. Os tuctuc e rickshaw se oferecendo para carregar os livros, gente querendo vender sacos, adultos e crianças querendo vender serviço de carregador, sorveteiro, crianças querendo brincar, centenas de monges querendo os livros e outros ajudando na organização da distribuição e nós ocidentais ajudando a organizar a bagunça.
At 1 p.m. the offering to the high lamas and money distribution.
Afterwards there would be the book distribution. I helped to distribute the Tanjur, which is the commentaries on the Buddhist teachings, there were 69 boxes with 4 volumes inside each one, each monk had to hire 2 tuctuc to help carrying the whole collection. One thing I really enjoyed from this activity was being close to the monks, how happy they got when they were given the books and the prayer wheels. The tuctuc and the rickshaw drivers would offer to help carrying the books, people trying to sell bags, adults and children trying to be hired to carry the loads, ice cream sellers, kids who wanted to play, hundreds of monks coming after the books and many others helping to distribute, and us westerners helping to put some order in all the chaos.
separando e carregando livros |
agora mais organizado |
atrás tuctuc semi carregado |
monges se escondendo do sol e o sorveteiro querendo faturar |
me escondendo do sol, enquanto meu grupo carrega os livros |
um dos grupos para o qual eu entreguei os livros |
As 19:00 jantar e avisos da programação do dia seguinte que, com certeza, seria alterada ao longo do dia, sem aviso prévio. Ou seja, não dava para relaxar, descansar, ir meditar. Se você quisesse participar de tudo tinha que ficar ligado no movimento.
O conhecimento por traz de cada ato, tinha que ser caçado entre os participantes mais experientes, os monges e lamas. O processo não é nada didático.
No templo, onde tudo isso acontecia, os cantos de mantra ocorrem nos quatro lados, norte, sul leste e oeste, em ritmos e conteúdos diferentes. Outros grupos independentes, com seus próprios alto falantes, passam ou se instalam para cantar outros mantras em outros ritmos. Milhares de pessoas circulam 3 anéis em volta do templo cantando, se prostrando e reverenciando cada lugar sagrado.
Fora do templo, a Índia. As buzinas incessantes, vendedores de tudo, insistentes como nunca vi, pedintes ainda mais insistentes, poeira, carros, tuctuc, rikshaw, bicicleta, vaca, elefante, moto, pedestre, caminhão e ônibus tudo misturado. Cenas surreais! Monges para todos os lados, jovens, velhos e crianças. O nariz e a garganta já machucados e entupidos pela poeira e poluição, sucumbiram ao uso da máscara.
Com o passar do tempo a comida também estava ficando mais difícil, sempre tendo que caçar algo sem pimenta num mundo apimentado, cuidado com verduras cruas e água, carne nem pensar. Sonhava com uma pizza de mussarela! Um café, qualquer coisa que me fosse familiar!
At 7 p.m. we had dinner and heard the announcements about the schedule for the next day, which, surely, would be changed along the day without any prior warning. We couldn’t relax, rest or meditate. If you wanted to participate in everything you had to be constantly aware.
The knowledge that could be gained from each act had to be hunted down among the more experienced participants, the monks and the lamas. It wasn’t student-friendly at all.
At the temple, where all of this was happening, the mantra chants would go on at the four sides, North, South, East and West, with distinct rhythms and messages. Other unrelated groups, with speakers of their own, would go by or stop to chant still other mantras with different rhythms. Thousands of people would circle three rings around the temple while they sang, prostrating themselves at places and revering each holy place.
On the outside of the temple we found India. Cars honking nonstop, sellers of all kinds of wares, trying to make us buy something with a determination I’d never seen before, beggars even more determined, dust, automobiles, tuctuc, rickshaws, bicycles, cows, elephants, motorcycles, pedestrians, trucks, buses, all mixed together. Such surreal scenes! Monks everywhere, youngsters, old men and children. My nose and throat would hurt and clog because of all the dust and pollution, I had no choice but use a mask.
After a while finding food became more and more difficult, it was hard to find something with no spice in a completely spicy world, be careful with uncooked vegetables and with the water, and don’t even think about eating meat there. A mozzarella pizza became my dream! One cup of coffee, anything that was familiar to me!
Lá fora a Índia |
milhares de pessoas circulando o templo e praticando rumo a iluminação |
Consegui meditar mesmo uma vez, todas as outras tentativas foram frustradas, acabei vencida pelo excesso de gente e barulho.
Quanto mais o tempo passava mais difícil ficava para eu manter a paz.
No fim desisti. Não estava vindo de dentro.
Toda aquela “devoção” começou até me incomodar, eu via aquilo e associava a devoção e fé católica, que eu não tenho nada contra, mas nunca se adequou a minha pessoa. Cada um tem o seu caminho, o que importa é estar bem e evoluir.
Mas lá eu queria entender o que passava na cabeça daquelas pessoas enquanto elas ofertavam ou se prostravam. Eu achava que não devia ser a mesma coisa que se passa na cabeça de um católico, pelos conhecimentos budistas que eu tinha. Mas quando eu olhava para elas o que eu sentia era o mesmo que eu sentia ao olhar os religiosos em Nossa Senhora de Aparecida. Não conseguia me livrar desse “conhecimento/condicionamento” impregnado na minha pessoa ocidental.
Surrounded by all of this I meditated, prostrated myself, recited the mantras, walked around the temples and the stupas, tried to tune myself to the energy of the place, of the people, understand how it all worked, comprehend the “devotion” I saw anywhere I looked.
I only really succeeded in meditating once, all the other attempts went wrong, I was defeated by people and noise in excess.
The more time passed, the harder it became for me to keep calm.
By the end I gave up. It wasn’t coming from a true place inside me.
So much “devotion” started to bother me, I saw that and associated it to Catholic faith and devotion, not that I have anything against it, but it never felt right to me. Each person has their own path to follow, what really matters is to be well and evolve.
But since I was there, I wanted to understand what was going on the mind of those people while they prostrated themselves or made offerings. I thought it probably wasn’t the same that went through the mind of a Catholic, from whatever Buddhist knowledge I had. However, when I looked at those people what I felt was the same I felt when I looked at the devotees at Aparecida. I couldn’t shake away that “knowledge/conditioning” that was attached to my westerner persona.
mantras, meditação em frente ao trono da iluminação |
na fila de entrada com as flores para oferenda |
a pratica de purificação, 108000 prostrações |
A experiência foi intensa como eu imaginava que seria, mas os efeitos foram em uma direção inesperada.
Depois de 10 dias nessa rotina, segui para Varanasi, a parte mais surreal da Índia, se é que tem alguma parte menos surreal por lá.
Conheci o Rio Ganges de dentro para fora e de fora para dentro (de barco e a pé), pouco me surpreendeu depois de tantos relatos já ouvidos, naquele rio toma-se banho, reza-se lava-se roupa, queima-se os mortos, brinca-se, faz-se turismo, ganha-se dinheiro e o que mais a imaginação permitir.
A essa altura eu estava cansada e doente (peguei uma virose brava), caminhando pelas ruas estreitas e becos, no meio das vacas, torci o pé feio, foi over para mim! Eu com um frio e 5 casacos e outros se ensaboando no rio na maior calma.
This experience was intense like I supposed it would be, but its effects went in an unexpected direction.
After 10 days immersed in this routine, I went to Varanasi, the most surreal area in India, if you could say there’s any non-surreal place around there.
I knew the Ganges river from the inside to the outside and from the outside to the inside (by boat and by foot), it didn’t impress me much because of all the accounts about it I heard before. This is the river where people bathe, pray, wash their clothes, burn their dead, play, make tourism, earn their money and whatever else their imagination can come up with.
By this time I was exhausted and sick (I caught some kind of mean virus), and then, while I walked through the narrow streets and alleys, wandering among cows, I sprained my ankle. It was too much for me! I had 5 coats on and still felt coat, while other people were soaping themselves by the river nonchalantly.
lavando a roupa dos turistas.... |
banho caprichadérrimo |
compaixão de vaca para vaca |
Fiquei entre Varanasi e Sarnath, mais 5 dias para a cerimonia do paranirvana do mestre Longchenpa, onde cantei mais mantras, participei da distribuição de rodas de oração e da pratica das butter lamps em volta da estupa.
No Instituto Nyingma, onde tudo aconteceu, vi os mensageiros do Dalai Lama, trazendo uma prece escrita pelo próprio, para ser cantada no dia seguinte e agradecendo o apoio do Lama Tarthang Tulku a comunidade Tibetana exilada e tão necessitada de esperança.
I spent 5 more days between Varanasi and Sarnath waiting for the paranirvana ceremony by Master Longchenpa, during which I sang more mantras, helped to hand out prayer wheels and participated in the butter lamps lighting ceremony around the stupa.
At the Nyingma Institute, where it all happened, I saw messengers from the Dalai Lama bringing a prayer, written by the Dalai Lama himself, to be sung on the next day in appreciation of the support given by the Lama Tarthang Tulku to the whole Tibetan community in exile, which needs hope so much.
Sarnath stupa |
butter lamps ceremony |
reação ao ganhar as rodas de oração |
No Nepal passei 2 dias de cama, em um mosteiro do lado de Boudhanath, no bairro Tibetano, passei frio, tive febre, quando melhorei fugi por um dia, fui para o lado turístico, tirei um dia de férias e virei turista, comi a melhor rosca doce da minha vida, pelo menos parecia, em Thamel, tomei um super café da manhã de turista e jantei comida italiana.
I spent two days bedridden in Nepal, in a monastery by Boudhanath, in the Tibetan neighbourhood. I suffered with the cold, became feverish, and on the day I got a little better I made an escapade and visited the touristic side of town. I took a day off and allowed myself to become a tourist. In Thamel I ate the best sweetbread I ever had in my life, or at least that’s what it tasted like, and had a delicious tourist breakfast and had Italian food for dinner.
Boudhanath Stupa, os tibetanos e suas praticas |
Na seqüência o Butão, sabia que era um lugar extremamente preservado em sua cultura, mas não sabia que sua cultura se confundia com a historia budista. E assim foram mais 5 dias totalmente budistas, conhecendo diferentes templos e monasterios.
Lá, em Thimphu, fui na festa de aniversario do rei. Centenas de jovens dançaram e cantaram parabéns para ele. Nunca imaginei que cantaria parabéns para o REI do BUTÃO!!!, Foi muito comovente, sensacional, chorei.
No mesmo evento vi, junto com a simpática plateia butanesa, a final da competição do homem mais forte do Butão. Logo nos entrosamos
Em Paro subi até o Monastério Tiger’s Nest, quase morri aos 3000m, depois de uma virose em andamento, mas valeu cada passo! É maravilhoso e comovente, lá voltei a me prostrar, veio de dentro.
No Butão tudo gira em torno de Padmasambhava e o budismo tântrico, muito impressionante visualmente, com deidades iradas e imagens sensuais.
Afterwards I went to Bhutan. I knew it is a place that’s extremely well preserved culturewise, but I had no idea that its culture was so mingled with Buddhist history. And so it was that I spent 5 more completely Buddhist days, exploring different temples and monasteries.
When I went to Paro I climbed to the Tiger’s Nest Monastery, and almost passed away after climbing 3000 meters (I was still recovering from my sickness), but it was worth each step! It is a wonderful and touching place, while I was there I felt like prostrating myself again, it felt genuine.
In Bhutan everything orbits the Padmasambhava and Tantric Buddhism, everything is very striking visually, with angry deities and sensuous imagery.
a platéia convidada do rei |
a localização e a vista do estádio |
quase chegando no Tiger's Nest |
Mesmo com essa passagem pelo Butão voltei de viagem zoada da cabeça, desconsertada, desintegrada, enjoada de toda aquela coisa que eu percebi como fé e devoção.
Só aqui, quase 30 dias mais tarde, depois de muiiiita reflexão e discussão com amigos e parentes, consegui digerir e as fichas começaram a cair.
Eu percebi o quanto é difícil um olhar limpo, descontaminado dos aprendizados anteriores aqui no ocidente. E não é um momento ou uma viagem mágica que poderão transformar isso. Eu não tinha ideia do quanto isso era forte, embora já tivesse lido e pensado a respeito. Aprendizado 1.
Eu percebi o quanto é difícil um olhar limpo, descontaminado dos aprendizados anteriores aqui no ocidente. E não é um momento ou uma viagem mágica que poderão transformar isso. Eu não tinha ideia do quanto isso era forte, embora já tivesse lido e pensado a respeito. Aprendizado 1.
Uma noite fiquei 1 hora discutindo com minha filha e o namorado sobre isso e eles tentando me convencer que fé e devoção é igual em todo lugar e eu dizia que o que vi lá não era igual. No dia seguinte fui olhar no dicionário a definição de fé e devoção e cheguei a conclusão de que eles estavam certos e eu também.
O que aconteceu foi que exatamente pela minha cultura ocidental eu vi uma coisa, usei as palavras que conheço para traduzi-la e me expressei completamente errado, o que vi não foi fé nem devoção, pois as duas coisas são exatamente o que não é o budismo.
Devoção - prática religiosa onde não objetiva-se o encontro com a divindade através do desenvolvimento do próprio potencial
Fé - é a firme opinião de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação. A fé acompanha absoluta abstinência à dúvida , é impossível duvidar e ter fé ao mesmo tempo.
No budismo, ao contrário, tudo tem que ser questionado e o objetivo é exatamente o desenvolvimento pessoal através do próprio esforço.
Graças a essa discussão consegui entender que, o que eu vi, foi um monte de gente treinando corpo e mente para evoluir como ser humano, não sei se há uma palavra no nosso dicionário que resuma isso!
Valeu a insistência de todos!!!! Eles são muito persistentes e eu também...
Um pouco depois cheguei a pensar que agora eu teria alguma condição de tentar separar o que era minha bagagem cultural e tentar voltar lá para entender melhor. Mas uma amiga me ajudou a ver que talvez a meditação traga melhores resultados.
E assim a cada momento novas percepções vão aparecendo.
Percebi também como sair da zona de conforto é essencial para o auto conhecimento. Eu me achava uma pessoa muito desapegada do conforto, da minha realidade, da minha casa e minha cama.
Nunca quis voltar para casa, nunca dei valor para essas coisas. Afinal eu adorava acampar, passar uns dias na casa de moradores no meio do lago Titicaca...Mas depois de 35 dias pela Índia, Nepal e Butão, em uma realidade que NADA tem a ver com a minha, eu aprendi que eu preciso e gosto de onde e como eu vivo e quanto essas coisas são importantes para mim.
Por um lado é bom, porque agora qualquer café expresso, minha cama ou uma pizza me trazem uma enorme alegria. Por outro lado acho ruim, esse apego limita minha liberdade de ir e mudar. Mas se enxergar é o primeiro e mais importante passo da mudança. Aprendizado 2.
Nunca quis voltar para casa, nunca dei valor para essas coisas. Afinal eu adorava acampar, passar uns dias na casa de moradores no meio do lago Titicaca...Mas depois de 35 dias pela Índia, Nepal e Butão, em uma realidade que NADA tem a ver com a minha, eu aprendi que eu preciso e gosto de onde e como eu vivo e quanto essas coisas são importantes para mim.
Por um lado é bom, porque agora qualquer café expresso, minha cama ou uma pizza me trazem uma enorme alegria. Por outro lado acho ruim, esse apego limita minha liberdade de ir e mudar. Mas se enxergar é o primeiro e mais importante passo da mudança. Aprendizado 2.
Hoje vejo com certa tristeza a importância dessas cerimonias para Budistas de toda a Ásia, pois assim como eu, eles também precisam de um lugar e um momento onde se identifiquem com suas crenças e hábitos. Principalmente os Tibetanos que hoje espalhados pelo mundo continuam sua pratica com incrível perseverança e disposição. Aprendizado 3.
A parte dos aprendizados 1,2 e 3 aprendi muito sobre budismo e budistas, sobre a Índia e o Butão.
Agora vamos ver quais serão as próximas fichas a cair...
Nas próximas publicações mais fotos, detalhes de cada lugar e informações práticas para a sua viagem.
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Even after having visited Bhutan I returned from this trip with my head in disarray, disconcerted, destroyed, and sick with all of those acts that I perceived as faith and devotion.
Only here, 30 days later, after much, much thought and much debate with family and friends, I was able to digest what I went through and its lessons started to dawn on me.
I realized how difficult it is to have un unprejudiced vision, void of any contamination from former lessons acquired at the West. It’s not a single moment or a magical trip that are going to be able to change that. I had no clue of how strong that was, even though I had already read and thought about it. Lesson number 1.
One evening I spent one hour discussing all of that with my daughter and my boyfriend. They argued that faith and devotion are the same everywhere, and I insisted that what I saw over there was not the same thing. The next day I looked up the definition of faith and devotion in the dictionary and got to the conclusion that they were right – and so was I.
What happened was that, exactly because of my Western culture, I saw one thing, used the words I know to comprehend it, and expressed myself completely the wrong way. What I saw there wasn’t neither faith nor devotion, because both of these things have nothing to do with Buddhism.
Devotion: religious practice in which the goal is not to meet a deity through the development of one’s own potential.
Faith: the strong opinion that something is true, without any kind of proof or objective criteria for verification. Faith accompanies the absolute absence of doubt; it is impossible to doubt and have faith at the same time.
In Buddhism, on the contrary, everything must be put in question, and the goal is exactly to attain personal development through one’s own efforts.
Thanks to this debate I was able to understand that what I met was a crowd of people training their body and their mind to evolve as human beings, I’m not sure our dictionaries have a world to express that!
I’m grateful for everyone’s insistence!!! They are very persistent, and so am I…
A little later I even thought that now I’d be able to try to set apart my cultural baggage, and I should return to try to understand it better. But a friend of mine helped me see that perhaps I’d achieve better results through meditation.
And so it is that each moment brings new perceptions.
I also realized that moving away from our comfort zone is essential to self knowledge. I thought I had no attachment to physical comfort, to my reality, to my home and to my bed.
I never longed to go back home, never cared about these things. After all, I’m someone who loves to go camping, loves to spend a few days at the home of locals at Titicaca Lake… But after spending 35 days in India, in Nepal and Bhutan, immersed in an environment COMPLETELY different from mine, I learned that I need and enjoy the way I live, and how much these things are important to me.
On one hand this is good, now any espresso, any pizza or any stretch on top of my bed bring me immense joy. On the other hand I think this is bad, this kind of attachment limits a lot my freedom to get up and change. But being able to see yourself clearly is the first and most important step on the way to change. Lesson number 2.
Now I see with some sadness how important these ceremonies are for Buddhists all around Asia, because, just like me, they also need a place and a moment through which they can identify their beliefs and habits. Specially the Tibetans, who are now scattered around the world but still keep on their practices with amazing perseverance and will. Lesson number 3.
queridinha, adorei suas vivencias. Continue andando por aí. Nào muito longe de preferencia.
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